Trechos de conversa entre senador Kajuru e Bolsonaro acirram clima em Brasília; entenda polêmica
O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) divulgou trechos de uma conversa que teve com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), neste sábado (10). Inicialmente, foram revelados pouco mais de seis minutos da gravação.
Mas, em entrevista à Rádio Bandeirantes, Kajuru mostrou outra parte da mesma conversa. Entenda o teor e leia diálogo na íntegra abaixo.
AMPLIAÇÃO DO ESCOPO DA CPI
No áudio divulgado neste domingo (11), Kajuru pede a Bolsonaro o reconhecimento do seu empenho para incluir prefeitos e governadores à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a gestão do presidente no combate à pandemia.
Bolsonaro diz que essa mudança do escopo da apuração é fundamental para tirar seu nome do centro da questão e a CPI se torna “realmente útil para o Brasil”.
Nos poucos mais de seis minutos de diálogo, Kajuru insiste em ser reconhecido, enquanto Bolsonaro reforça a necessidade da ampliação.
SUPREMO NA MIRA
Bolsonaro acrescenta que também é necessário ingressar com pedidos de impeachment contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Fica subtendido, então, que a saída dos ministros ajudaria no controle das investigações.
“Vamos lá, Kajuru, uma coisa importante aqui: gente fica fazendo do limão uma limonada. Por enquanto, é um limão que tá aí. Dá para ser uma limonada. Tem que..Eu cho que você já fez alguma coisa, tem que peticionar o Supremo pra botar em pauta o impeachment também (dos ministros do Supremo)”, diz.
Kajuru responde que já começou pelo ministro Alexandre de Moraes e Bolsonaro o parabeniza: “Parabéns para você”.
BOLSONARO VOLTA A MINIMIZAR A PANDEMIA
Em um momento, Bolsonaro volta a dizer que as pessoas vão continuar morrendo. “Kajuru, a questão do vírus, ninguém vai curar, não vai deixar de morrer gente, infelizmente, no Brasil. Agora, poderia morrer menos gente se os prefeitos todos pegassem recursos e investissem em postos de saúde, hospital”, diz.
EM OUTRO TRECHO DIVULGADO, BOLSONARO DIZ QUE “VAI SAIR NA PORRADA” E CHAMA DE “BOSTA” SENADOR QUE PEDIU CPI DA COVID
Kajuru revelou outro trecho. No primeiro, percebe-se que a ligação não começa naquele instante. Na outra parte revelada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chama o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) de “bosta” e afirmou que teria que “sair na porrada” com o autor do requerimento de criação da CPI da Covid.
“Se você [Kajuru] não participa [da CPI], vem a canalhada lá do Randolfe Rodrigues para participar e vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desses”, afirmou Bolsonaro em áudio divulgado por Kajuru na manhã desta segunda-feira (12) na Rádio Bandeirantes.
VEJA A CONVERSA NA ÍNTEGRA:
Bolsonaro – Tem uma CPI completamente direcionada à minha pessoa.
Kajuru – Não, presidente…Mas, presidente, a gente pode convocar governadores
Bolsonaro – Se você não mudar o objeto da CPI, você não pode convocar governadores.
Kajuru – Tá, mas mas eu vou mudar. Eu quero ouvir governadores.
Bolsonaro – Se mudar (o foco da CPI), (nota) 10 para você, porque nós não temos nada a esconder.
Kajuru – Eu não abro mão de ouvir governadores, em hipótese alguma.
Bolsonaro – Então, olha só (Bolsonaro é interrompido)
Kajuru – Eu só não quero que o senhor ‘coloque eu’ no mesmo joio
Bolsonaro – Olha só, o que você tem que fazer: tem que mudar o objetivo da CPI. Tem que ser ampla
Kajuru – Ampla, claro
Bolsonaro – Aí você faz excelente trabalho no Brasil.
Kajuru – O que eu quero fazer é isso. Eu não vou manchar meu nome de forma alguma.
Bolsonaro – Você não é o autor da CPI. Então, o autor, o objetivo do autor, que não quem é, o objetivo como tá lá é investigar omissões do governo federal no combate à Covid
Kajuru – Não é o meu caso.
Bolsonaro – Tudo bem
Kajuru – Eu acabei de declarar por Agusto Nunes, mas eu quero dizer que eu não posso ser colocado no mesmo joio, presidente? Nas suas entrevistas, o senhor coloca como se todos nós fossemos iguais. Aí não é certo…
Bolsonaro – A CPI hoje é para investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro. Ponto final.
Kajuru – Mas o senhor pode dizer: não é o que pensa o senador Kajuru, que quer fazer uma investigação completa.
Bolsonaro – Kajuru, se não mudar o objetivo da CPI, ela só vir para cima de mim.
Kajuru – Mas não vai, presidente. Tem a opinião de outros. São 11 titulares e 8 suplentes. A opinião de um não prevalece. Vai prevalecer quem concordar. Eu não concordo com coisa errada, presidente.
Bolsonaro – Kajuru, olha só, o que tem que fazer para a CPI realmente seja útil para o Brasil: mudar a amplitude dela. Bota governadores e prefeitos. Presidente da República, governadores e prefeitos…
Kajuru – Sim. Eu fui o primeiro a assinar para governadores e municipios. O senhor pode vê lá. Eu fui o primeiro a assinar. Então, portanto, eu concordo ‘da amplitude’.
Bolsonaro – Então, se mudar a amplitude (inaudível). Se não mudar, a CPI vai simplismente ouvir o Pazuello, gente nossa, para fazer um relatório sacana.
Kajuru – Ah…Isso aí eu não faço nunca, pela minha mãe.
Bolsonaro – Vamos lá, Kajuru, uma coisa importante aqui: gente fica fazendo do limão uma limonada. Por enquanto, é um limão que tá aí. Dá para ser uma limonada. Tem que..Eu cho que você já fez alguma coisa, tem que pressionar o Supremo pra botar em pauta o impeachment também (dos ministros do Supremo).
Kajuru – Sim, e o que eu fiz? O senhor não viu o que eu fiz, não?
Bolsonaro – Parece que você fez. Você fez uma petição para investigar quem?
Kajuru – O Alexandre de Moares, ué. Eu tenho que começar pelo Alexandre de Moraes, porque o de Alexandre de Moraes meu está lá engavetado pelo Pacheco. Só falta liberar. Correto?
Bolsonaro – Você peticionou o Supremo, né?
Kajuru – Sim, claro. Eu entrei contra o Supremo. Eu entrei ontem, às 17h40.
Bolsonaro – Parabéns para você.
Kajuru – Eu só queria que o senhor desse crédito para mim nesse ponto.
Bolsonaro: Kajuru, de tudo o que nós conversamos aqui, nós estamos afinados, nós dois. É CPI ampla, investigar ministros do Supremo.
Kajuru – E nunca “revanchista”. E nunca “revanchista”
Bolsonaro: – Dez para você. Tendo a oportunidade, eu falo com as mídias e sinto que a minha conversa contigo… ampla CPI do Covid… E, também, o Supremo.
Kajuru – Exatamente. Se ele fez com a CPI tem que fazer também com o ministro.
Bolsonaro – Sim.
Kajuru – Quer dizer, então é a coisa justa. O que é difícil pra mim é que eu tenho uma posição dessa, presidente, e aí todo mundo vem contra mim porque a fala do senhor generaliza todo mundo. Não é só eu não. O senhor precisa separar O joio do trigo.
Bolsonaro – Kajuru, olha, qualquer pessoa que eu conversar vou dizer o seguinte: ‘O Kajuru foi bem intencionado, só que a CPI era restrita. Só que agora ele vai fazer o possível para ter uma CPI ampla. Da minha parte, não tem problema nenhum. Ele peticionou o Supremo, que deve ser o Barroso.
Kajuru – Deve ser não, tem que ser, por causa daquela palavra jurídica “pretento”, então juridicamente ele é obrigado a opinar, ele não pode colocar em nome de de outro ministro.
Bolsonaro – É “prevento”.
Kajuru – Prevento, desculpe.
Bolsonaro – Ele vai ter que despachar.
Kajuru – Ele não pode colocar na mão de outro. Modéstia à parte, eu acho que fui bem nessa, né?
Bolsonaro – Bem não, você foi dez. Acho que o que vai acontecer, eles vão ponderar tudo. Não tem CPI nem tem investigação do Supremo.
Kajuru – Ou bota tudo, ou zero a zero.
Bolsonaro – Eu sou a favor de botar tudo pra frente.
Kajuru – É, claro, vamo pro “pau”, ué
Bolsonaro – Kajuru, a questão do vírus, ninguém vai curar, não vai deixar de morrer gente, infelizmente, no Brasil. Agora, poderia morrer menos gente se os prefeitos todos pegassem recursos e investissem em postos de saúde, hospital.
Kajuru – Presidente, eu sou justo. Nunca pedi uma agulha para o senhor.
Bolsonaro – Estamos 100% assinados, Kajuru. Estamos 100% assinados. Tranquilo.
Kajuru – Eu só quero justiça, presidente.
Bolsonaro – Se você me pedir algo, sei que vai fazer bom uso.
Kajuru – O senhor me ajudou no que, foi o único presidente da república da história do Brasil que ajudou a diabetes. E isso aí é toma lá, dá cá?
Bolsonaro – Tem nada a ver.
Kajuru – Pelo amor de Deus, não é?
Bolsonaro – Tá certo.
Kajuru – Abraço para você. Bom final de semana e saúde.
Bolsonaro – Valeu. Até mais!