Polícia Federal desarticula rede de exploração sexual que tentou aliciar MC Mirella; Núbia Oliver é investigada
A Polícia Federal desarticulou na semana passada um grupo criminoso que coordenava uma rede de exploração sexual de mulheres para o tráfico internacional.
Reportagem do Fantástico, da Globo, revelou áudios do empresário Rodrigo Cotait, que é apontado como líder da quadrilha de São Paulo e um dos maiores traficantes de mulheres já identificados pela PF.
Segundo a investigação, Cotait aliciava as mulheres e era o responsável por fotografá-las —as imagens seriam oferecidas aos “clientes”. O esquema era feito por intermédio da empresa de maquiagem do traficante, acordo com a polícia.
“As meninas que viajam comigo vêm todas na minha casa. Só mando viajar produto de exportação que tem meu selo de qualidade”, disse Rodrigo Cotait, em áudio divulgado pelo Fantástico.
“É o vídeo de acordo com o que eles [clientes] querem ver. Sem produção nenhuma”, continua Cotait.
No último dia 27 de abril, a Polícia Federal cumpriu nove mandados de busca e apreensão e oito mandados de prisão preventiva no âmbito da Operação Harém. Destes últimos, cinco mandados foram cumpridos fora do país, com a assistência da Interpol — mais especificamente, no Paraguai, nos EUA, na Espanha, em Portugal e na Austrália, onde trabalhariam sócias de Cotait. Elas controlavam a operação fora do país, segundo a investigação.
A apuração foi iniciada pela PF em 2019 e descobriu que a rede de agenciadores/aliciadores atuava tanto em território nacional, quanto no exterior —enviando mulheres, algumas menores de 18 anos, para Paraguai, Bolívia, EUA, Catar e Austrália.
Segundo a polícia, uma das vítimas foi a funkeira MC Mirella, quando ela tinha 16 anos. “Paguei em cash, dinheiro, ela não tinha nem conta em banco”, diz Cotait em um dos áudios divulgados.
Ainda de acordo com a PF, a quadrilha tentou aliciar Mirella para o empresário Wissam Nassar, dono de shopping na Cidade Del Este, Paraguai. “Ele [Cotait] tentou levá-la, mas o crime não se concretizou”, diz a advogada da funkeira, Adélia Soares.
A modelo Nubia Oliiver também é investigada. Segundo a PF, ela ajudava Cotait a selecionar as garotas. Em um áudio divulgado pela Globo, a modelo pede para que o traficante não use seu nome nas conversas “para não gerar fofoca”.
“R$ 10 mil consegue cobrar?”. Cotait questiona Nubia, e propõe dividir R$ 5.000 entre os dois.
Em um dos depoimentos apresentados no “Fantástico”, uma das mulheres aliciadas diz que, em Doha, uma sócia de Cotait controlava todos os seus passos. “Diziam que era preciso ser assim para evitar problemas com a imigração”.
Segundo ela, até o motorista que a acompanhava chegou a molestá-la. “Tive medo de ser sequestrada, presa”.
Cotait aparece em outro áudio dizendo que o monitoramento era necessário: “Tem menina aí que se sente muito atrevidinha, põe as asinhas para fora”.
Hoje, a funkeira MC Mirella prestou depoimento na condição de vítima e testemunha contra a quadrilha. Ao Splash a advogada dela disse que os criminosos tentaram entrar em contato com Mirella no passado.
“Não existe qualquer investigação ou acusação contra Mirella, é importante ressaltar isso. […] [Ela] já contribuiu com seu testemunho, várias outras pessoas também vítimas da quadrilha foram ouvidas. No que poderia, a Mirella colaborou com a investigação para que a justiça se cumpra”, disse Adélia Soares, advogada de MC Mirella.
Nesta semana, Rodrigo Cotait foi preso em seu apartamento em São Paulo. Ele negou o crime. “Eu sou solteiro, então recebo muitas mulheres na minha casa. Não me considero um fora da lei ou bandido.”
A defesa de Nubia Oliiver não quis se manifestar ao Fantástico sobre as acusações. O empresário Wissam Nassar também foi preso por supostamente contratar menores.
Os investigados podem responder pelos crimes de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, favorecimento da prostituição e falsidade ideológica.