Novas pistas podem esclarecer definitivamente origem do óleo no Nordeste
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Novas evidências podem esclarecer de uma vez por todas a origem do óleo no Litoral do Nordeste. Uma terceira imagem de satélite, encontrada na última sexta-feira, dia 15 de novembro, pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), foi crucial para se chegar ao navio suspeito de derramar óleo no Litoral do Nordeste.
A imagem do Sentinel-1A, do dia 19 de julho de 2019, mostra mais uma mancha de óleo, de grande proporção, na costa leste do Nordeste brasileiro, a 26 km do Litoral da Paraíba.
O satélite capturou uma grande mancha de óleo no mar, com cerca de 25 km de extensão e 400 metros de largura. A mancha pode ser bem maior, pois parte dela talvez não tenha sido registrada pela faixa de cobertura do satélite.
O Lapis já havia identificado, a partir de três satélites (Sentinel-1A, Aqua-Modis e NOAA-20 Viirs) uma grande mancha de óleo na costa norte do Nordeste, a 40 km de São Miguel do Gostoso (RN).
Somente aquela imagem foi suficiente para o Laboratório concluir que os cinco navios gregos suspeitos, inclusive o Bouboulina, não cometeram o desastre ambiental no Nordeste brasileiro.
Uma reportagem do Estadão, do último dia 13 de novembro, mostrou que a organização norte-americana Skytruth, especializada em análises do mar, questiona as imagens de satélites divulgadas pela Marinha e Polícia Federal.
A análise daquela organização, que reúne empresas como Google e Oceana, confirma as hipóteses do Lapis. Na avaliação dos especialistas americanos, a imagem da Hex Tecnologia Geoespacial, que apoiou as autoridades brasileiras, não indica óleo, e o navio grego Bouboulina não originou o derramamento.
Com o avanço nas investigações, a nova mancha, localizada pelo Lapis, desta vez, no Litoral da Paraíba, levou à identificação da provável embarcação que derramou óleo no Litoral do Nordeste.
Com base em dados de geointeligência marinha, cruzados com informações de satélites, o Lapis concluiu ter havido comportamento atípico, no percurso do navio, pela costa norte do Nordeste brasileiro, no período anterior a 28 de julho.
A bandeira da embarcação suspeita não é grega. Todos os seus dados serão repassados, pelo Lapis, ao Senado Federal, no próximo dia 21 de novembro. Na ocasião, haverá uma audiência pública da Comissão Externa que acompanha as investigações sobre a poluição por óleo no Litoral do Nordeste.
A partir das imagens de satélites localizadas, nos dias 19 e 24 de julho, rastreamos todos os navios-tanque que transportaram óleo cru nessas datas, pela costa leste e pela costa norte do Nordeste brasileiro. No total, 111 navios navegaram por ali com esse tipo de carga.
De todas as embarcações analisadas, concluiu-se que apenas uma delas apresentou evidências de que algum incidente pode ter ocorrido durante seu trajeto, podendo ser a provável fonte do óleo que polui o Litoral brasileiro.
O Lapis indicou, pela primeira vez, um navio suspeito de derramar óleo no Litoral do Nordeste. Por enquanto, a identidade da embarcação não será revelada, antes que seja feita a devida investigação. Mas serão detalhados, a seguir, características do navio e do itinerário que pode ter causado a poluição marítima.
A imagem acima mostra dois itinerários do navio, em maio e em julho de 2019. O navio costumava fazer o trajeto de um país asiático até a Venezuela, pela África do Sul, com o transponder devidamente ligado, ou seja, o aparelho que indica sua localização durante todo o percurso.
Todavia, as análises sobre a embarcação mostram que, no percurso do dia 1º de julho a 13 de agosto, o itinerário do navio pelos oceanos foi bastante controverso. Veja na imagem acima a comparação do trajeto bastante conturbado do navio, com o transponder desligado. É possível comparar a situação com um percurso normal da própria embarcação (traçado verde abaixo), feito com a devida identificação.
O navio suspeito não transmitiu, de forma regular e sem interrupções, todas as informações de sua faixa de Automatic Identification System (AIS, um sistema de monitoramento de embarcações usado internacionalmente).
As embarcações que não transmitem consistentemente seu sinal de rastreamento público violam o direito marítimo internacional. De fato, a prática foi observada pelo navio investigado.
Foi registrado apenas que o navio partiu de um país da Ásia, no dia 1º de julho. O próximo ponto registrado foi na costa norte da América do Sul, possivelmente de uma parada, na altura da Guiana, no dia 28 de julho.
No oceano Atlântico, o itinerário do navio foi incomum. Ele não parou em nenhum porto, continuou sem identificação regular e fez uma estranha manobra, que indica uma mudança de trajetória.
A partir da Guiana, o navio deu uma grande volta, aproximou-se do nordeste dos Estados Unidos, em 31 de julho, e retornou pela costa africana, tendo passado por Serra Leoa, no dia 09 de agosto. Após essa mudança, a embarcação seguiu o percurso de volta e chegou ao seu porto de origem, na Ásia, em 13 de agosto.
Em nenhum momento, o navio atracou em algum porto na área marítima que navegava. Suas poucas paradas registradas, em alto mar, mostraram um comportamento anormal.
O percurso mostra alteração na direção do navio, indicando um comportamento suspeito ou um grande problema mecânico. É claro que ainda será necessário aprofundar essas investigações.
Pela análise da trajetória, o Laboratório concluiu que não houve estabilidade no percurso da embarcação, como costumava ocorrer normalmente em sua trajetória, desde a Ásia, seguindo pela África do Sul, com destino ao Atlântico Norte.
O navio suspeito possui uma tonelagem bruta duas vezes maior que o Bouboulina. Se confirmada sua relação com o desastre ambiental no Nordeste, esse dado pode justificar as impressionantes seis mil toneladas de óleo já retiradas das praias da região.
Atualmente, o navio suspeito segue uma rota aparentemente normal, vindo da Venezuela com destino à Singapura, com o transponder ligado. Seu trajeto continua sendo monitorado pelo Lapis.
De acordo com o pesquisador Humberto Barbosa, responsável pelo Lapis, já foram definidos protocolos importantes durante o processo de investigação das manchas de óleo no Litoral do Nordeste.
Na primeira etapa da pesquisa, o Laboratório analisou imagens de satélites disponíveis que cobriram desde o norte do Maranhão até o sul da Bahia, em busca de manchas de óleo.
Essa primeira fase permitiu a identificação da imagem do Sentinel-1A, do dia 24 de julho, a 40 km da costa do Rio Grande do Norte. Também foram encontrados em alto mar, no sul da Bahia, slicks (manchas de óleo finas com rastros deixados pelos ventos), no dia 27 de setembro.
No início de novembro, após a suspeita do derramamento de óleo ter partido de um navio, o Lapis fez uma reanálise das imagens retroativas, de toda a costa norte e leste do Nordeste, no período de julho até outubro.
“Essa segunda varredura das imagens foi feita de forma mais orientada, buscando encontrar manchas de vazamento de óleo por navios. Já havíamos definido um padrão, um protocolo, em função da imagem do dia 24 de julho. Foi assim que encontramos uma nova mancha no Litoral da Paraíba, dia 19 de julho, que nos levou a definir uma primeira embarcação suspeita”, ressalta Humberto Barbosa.
Ele destaca que, nas duas imagens do satélite Sentinel-1A, há sinal de navios próximos da grande mancha de derramamento de óleo detectada. Essa particularidade do registro contribui muito com as investigações.
O monitoramento do Lapis também permitiu encontrar outros vazamentos, em pequenas proporções, em águas brasileiras.
Nesse mesmo padrão das manchas de óleo encontradas no Nordeste, foram identificados sinais de vazamento de óleo no Rio de Janeiro (veja imagem acima, do dia 30 de julho).
O pesquisador Humberto Barbosa mostra preocupação com a vulnerabilidade dos mares brasileiros, especialmente pelo aumento da exploração e transporte de petróleo naquela região.
Apesar de não ser um monitoramento diário, sistemático, ele destaca que foram encontrados vários pontos de vazamento de óleo no Litoral brasileiro.
“Estamos falando de um monitoramento do mar não contínuo, feito a partir de um satélite que cobre essa área apenas em datas e horários específicos. É possível que essa poluição das águas brasileiras ocorra de forma bem mais frequente, embora em menor proporção”, completa Barbosa.
O pesquisador destaca a importância de fortalecer esse monitoramento e a vigilância dos mares brasileiros, reduzindo essa vulnerabilidade que hoje acarreta em grandes impactos para o ambiente, a economia e a população.
Fonte: TNH1
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