Raquel Lyra é eleita a primeira mulher governadora de Pernambuco
Raquel Lyra é eleita a primeira mulher governadora de Pernambuco – Raquel Lyra (PSDB) foi eleita a primeira governadora mulher de Pernambuco.
Na disputa com Marília Arraes neste segundo turno, a ex-prefeita de Caruaru foi considerada matematicamente eleita quando tinha 58,8% dos votos válidos com pouco mais de 90% das urnas apuradas. Naquele momento, Marília Arraes estava com 41,2% dos votos.
A vitória de Raquel Lyra traz de volta ao governo de Pernambuco boa parte do grupo político de direita que se alterna no poder do estado com o PSB, desde a redemocratização.
Outro dado histórico: é a primeira vez na história que um estado brasileiro elege uma chapa com duas mulheres, governadora e vice. Pernambuco agora é o sétimo estado a eleger uma mulher como governadora.
O primeiro foi o Maranhão, ao eleger, em 1994, Roseane Maranhão, filha do ex-presidente José Sarney. Nesta eleição de 2022, além de Pernambuco, apenas o Rio Grande do Norte, com a reeleição de Fátima Bezerra (PT) no primeiro turno, elegeu uma mulher como governadora.
Apesar dos dados históricos da eleição de duas mulheres, não se trata de uma proposta de governo comprometida com o feminismo. Em carta aberta, o Fórum de Mulheres de Pernambuco manifestou apoio crítico à Marília Arraes.
Raquel Lyra também foi criticada pelos movimentos LGBTI+ por não ter nenhuma proposta para essa população no seu plano de governo.
Com Priscila Krause (Cidadania) como vice, Raquel Lyra apostou em uma estratégia de neutralidade em relação ao cenário nacional.
Em um estado que deu mais de 63% dos votos para Lula no primeiro turno, mesmo pressionada, Raquel optou por não criticar Bolsonaro nos debates com Marília.
A neutralidade acabou funcionando, como apontou o cientista político Arthur Leandro em entrevista à Marco Zero. “Do ponto de vista da construção dos apoios, Raquel também ficou em vantagem pelo fato de que primeiramente ela não é uma candidata bolsonarista.
Raquel consegue ter além dos próprios votos que já teve no primeiro turno, receber os votos de Anderson Ferreira (PL) em sua quase totalidade e a maioria absoluta dos votos de Miguel Coelho (UB) e recebe ainda parte dos votos de Danilo Cabral (PSB). Raquel foi favorecida com essa convergência no segundo turno”.
Raquel Lyra recebeu de pronto o apoio de Miguel Coelho (UB) e montou um palanque com a direita tradicional, a extrema-direita e até alguns políticos de esquerda, como a prefeita de Serra Talhada Márcia Conrado (PT) e o deputado federal reeleito Túlio Gadelha (Rede).
Causou polêmica o apoio que recebeu dos políticos evangélicos fundamentalistas Júnior Tércio e Clarissa Tércio, ambos do Partido Progressista. Raquel Lyra subiu no mesmo palanque com o casal que, durante a pandemia, foi até a porta de uma maternidade protestar contra o aborto legal em uma criança de dez anos, vítima de estupro. Ainda não se sabe qual será o papel do casal no futuro governo de Lyra.
A divisão da esquerda no primeiro turno, em que o apoio de Lula foi para Danilo Cabral (PSB), e uma rejeição à Marília dentro do próprio campo da esquerda também contribuíram para a ascensão de Raquel Lyra.
“Ele se tornou a destinatária de todos que por alguma razão rejeitam o PT aqui em Pernambuco e vejamos que a rejeição ao PT é diferente da rejeição a Lula.
O PT tem um grau de rejeição maior do que Lula até porque Lula se apresentou como uma liderança política acima da legenda. E Marília conta com rejeição dentro do próprio campo da esquerda, seja no PSB, seja no próprio PT, há setores que rejeitam a figura de Marília”, afirmou o cientista político Arthur Leandro.
Vitória marcada por morte do marido
O primeiro turno dessas eleições foi algo que nunca se viu antes em Pernambuco. Foram quatro candidaturas fortes, o que pulverizou os votos. Raquel Lyra ficou em segundo lugar com 20,5% dos votos válidos, atrás apenas 3,5% de Marília, que liderou no primeiro turno.
A eleição foi marcada por uma tragédia pessoal: nas primeiras horas da manhã do dia 02 de outubro, o marido de Raquel, o empresário Fernando Lucena, teve um ataque cardíaco e morreu em Caruaru.
O casal tinha dois filhos. Dez dias depois, quando já estava voltando à agenda de compromissos, Raquel Lyra teve que dar outra pausa por conta da cirurgia de emergência de apendicite de um dos filhos.
Para o cientista político e pesquisador da Fundaj Túlio Velho a comoção da morte influenciou o favoritismo que Raquel Lyra teve logo após o primeiro turno. “Em alguma medida, há o apelo emocional que a morte do marido, nas circunstâncias em que ocorreu, tem junto ao eleitorado”.
Carreira e família de Raquel Lyra na política
Também é a primeira vez que Pernambuco tem na chefia do estado um político que fez carreira no interior, eleito democraticamente.
Antes de ser prefeita de Caruaru, assim como o pai e o avô dela foram, Raquel Lyra foi deputada estadual por dois mandatos consecutivos, sendo eleita em 2010 e reeleita em 2014. Foi também chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo do governo de Eduardo Campos e secretária da Criança e da Juventude no segundo mandato do falecido ex-governador.
Raquel Lyra é de uma família política com fortes raízes em Caruaru. O pai, João Lyra Neto, foi vice nos dois mandatos de Eduardo Campos e assumiu o governo quando Campos foi candidato à presidência do Brasil, governando Pernambuco por nove meses em 2014.
Antes, havia sido por duas vezes prefeito de Caruaru, deputado estadual e também foi secretário estadual de saúde. O pai dele, avô de Raquel, João Lyra Filho, foi também prefeito de Caruaru. Um dos tios de Raquel, Fernando Lyra, foi deputado federal por seis mandatos e ministro da Justiça de José Sarney.
Até 2016, Raquel Lyra era filiada ao PSB. Assim como Marília Arraes, deixou o partido por falta de espaço, já que o PSB não queria apoiá-la para a prefeitura de Caruaru e lançou a candidatura de Jorge Gomes. Lyra então se filiou ao PSDB e ganhou as eleições, se reelegendo em 2020 já no primeiro turno.
A vice, Priscila Krause (Cidadania) também é filha de um ex-governador. Gustavo Krause fez parte do Arena, o partido de sustentação da ditadura militar no Brasil, e teve longa carreira política em Pernambuco.
Foi prefeito do Recife, nomeado durante a ditadura militar por Marco Maciel, além de vereador e deputado federal. Foi eleito pelo voto direto como vice-governador na chapa de Roberto Magalhães e assumiu o governo quando ele saiu para se candidatar ao Senado.
Foi também ministro nos governos de Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso.
Formada em jornalismo, Priscila Krause iniciou na política se filiando ao PFL, então partido do pai, ainda na adolescência.
Ficou no partido, que mudou de nome para Democratas, até o começo deste ano e saiu por conta da fusão com o PSL. Foi eleita vereadora do Recife três vezes e está na segunda legislatura como deputada estadual.
Via Marco Zero